Foi num relance e o reconheci mesmo sem nunca tê-lo visto antes. Sentado na mesa ao lado desde sempre, me esperando. Cinzeiro cheio e copo vazio.
Sem olhar diretamente em seus olhos, me apresentei com a certeza de que ele já sabia meu nome. Sem nunca ter escutado sua voz, ouvi toda a história de sua vida. E eu já conhecia cada detalhe, adivinhava cada frase num déjà vu forjado, com uma espontaneidade forçada.
Uma fração de segundos, um descuido e eu estava nua, desarmada.
Desalmado.
E sem olhar nos meus olhos, foi embora. Sem se despedir, sem olhar pra trás. Fiquei apenas com seu cheiro impregnado em minha pele que ele nunca tocou. Condenada a viver uma vida de recordações que nunca existiram.